domingo, agosto 28, 2011

Gustav Klimt

Gustav Klimt (1862-1918) foi um dos artistas mais inovadores e controvertidos do início do século XX . Sob a influência de movimentos vanguardistas europeus representados nas exposições anuais, o estilo maduro de Klimt combina a modelação de arte decorativa com simbolismo complexo e alegoria, muitas vezes com conteúdo nitidamente erótico.







segunda-feira, agosto 22, 2011

Prosas

De Miguel Torga li há uns 20 anos,  “os bichos”, e,  a esta distancia,   recordo um livro pequeno de capa branca,  que  li num ápice e que gostei.
Há uns 6/7 anos, li “novos contos da montanha”, do qual ficou a ideia de uma escrita simples,  de leitura  não muito exigente,  retratando vivências essencialmente rurais. E por aí me fiquei.
Não sendo eu um grande consumidor de poesia, que exige, em meu entender, uma profundidade de espírito a que raramente me predisponho, curiosamente, não obstante a minha aversão,  foi um poema que aqui neste blog esteve durante  uns tempos,  que me deu vontade de melhor descobrir o Torga. Vi nesse poema a tal simplicidade de vocabulário que não o empobrecendo facilita a sua interpretação.
Fui, pois, à procura da poesia do Torga. Nenhuma outra  encontrei (não  li muita, confesso)  que despertasse em mim a mesma sensação,  pelo que regressado à  sua prosa me encontro,  e desta vez com outra curiosidade,  digamos que … com um olho na história  outro no escritor.



O PASTOR GABRIEL

Nunca houve em toda a montanha pastor como o Gabriel.
- Merecias outras ovelhas, homem! Disse-lhe um dia o Prior, desanimado da anarquia dos seus paroquianos, quando viu o rebanho do rapaz atravessar a estrema dum centeio sem tirar uma dentada.
- Deus me livre! já me vejo maluco com estas...
Mentira. O padre tinha razão. Era uma pena ver tanta autoridade, tanta vocação, tanto jeito natural, ao serviço de animais. Nem se pode fazer ideia! O carneiro mais teimoso, mais lorpa, mais churro, chegava às mãos do Gabriel e mudava de condição. Só não ficava a falar.
- Que fazes tu ao gado, criatura? Parece que o enfeitiças!
- Nada. Dou-lhe monte, como a outra gente. Sorria. E lá continuava a educar os  malatos com gestos e palavras que ninguém sabia fazer nem dizer. Nunca batia numa rés. O castigo era um simples olhar reprovativo, um assobio impaciente, uma  interjeição mal humorada. Mas bastava. Ao fim de algum tempo, cada cabeça como que porfiava em não desagradar ao dono, em viver sintonizada com aquele governo sem cajado. E dava gosto ver a disciplina com que o rebanho deixava o redil e atravessava o povo.
- Não há dúvida! Nem o mestre na escola! Continuava a rir-se por dentro. Espantavam-se com pouco. Com a pequenina amostra do muito que estava por detrás...
Na verdade, toda aquela disciplina tinha um fim, e era muito mais apertada do que parecia. Como os pastos no verão escasseavam, só havia uma solução: aceivar os nabais de noite, pela calada. Ora, para Áfricas dessas, o Gabriel necessitava de gado mudo e lesto, cegamente obediente ao comando. Por isso, sem dizer porquê nem por que não, exigia sistematicamente dos patrões que vendessem os carneiros mancos ou rebeldes, e ninguém ouvia o balido de nenhum.
- O teu gado não berra?
- Pergunta-lhe. É o berras! Ou não se chamasse ele Gabriel e não capitaneasse um bando de salteadores.
No meio da escuridão, abria a porta do curral e punha-se a andar. O rebanho atrás, como um cão rafeiro. À entrada da melhor sementeira, parava, perscrutava os horizontes e arrombava o tapume. Depois, em silêncio, deixava entrar os famintos e esperava que cada boca se fartasse em silêncio.
Se por acaso ouvia vozes ou passos de gente que se aproximava, subia acima da parede, descalçava os socos, batia com um no outro e largava a fugir com quantas pernas tinha. Não era preciso mais: quando chegava ao redil, já o rebanho lá estava.
- Não, tu hás-de ter qualquer segredo, qualquer mistério... insinuava o Languna, a sondar.
- Palavra de honra que não. E realmente não tinha. A coisa vinha-lhe espontaneamente, duma maneira directa, rápida, infalível, de entender e de se fazer entender por todos os seres vivos. Via um coelho na cama, falava-lhe e punha-lhe a mão em cima. Acalmava um cão açulado a sorrir-lhe.
Mas esta comunhão instintiva com a natureza dos bichos não tentava o Gabriel alargá-la à natureza dos homens. Desses arredava-se discretamente, sem querer passar, nas relações com eles, do plano amorfo da neutralidade. Alugava o suor. Enjeitado, sem vintém, servia este e aquele. A indústria de Ferrede era comprar gado magro, engordá-lo e vendê-lo. Portanto, quem tinha dinheiro tinha o poder, e não valia a pena discutir. Que lhe interessava a ele perder tempo com palavreado ou mendigar intimidades que sabia impossíveis de antemão? O que os donos de cada rebanho queriam já o sabia: era que lho entoirisse de qualquer maneira.
Recebia, pois, o farnel pela manhã, e ala que se faz tarde. Cada qual para o que nasce.
No verão em que fez vinte e dois anos, não pôde, contudo, ficar indiferente a um apelo que, muito embora fosse de cordeira no cio, vinha duma criatura cristã, com quem, de resto, acabou por casar.
Foi assim: como a serra inteira ardia na fornalha do Agosto, certo dia, no pino do sol, resolveu assestar o gado na loja. Servia então o Silvano, o maior proprietário da terra. E enquanto o rebanho, sonolento, ruminava, estendeu-se também no catre, igualmente sonolento e a ruminar. Era a hora do jantar, e lá em cima os patrões comiam e bebiam à tripa-forra. Ele, coitado, teria uma malga de caldo no fim do banquete, e viva o velho!
Nisto, sente passos pela escada abaixo, abre-se a porta, e a filha da casa, bonitota, mas de pêlo na venta, que nunca dera conta que o olhasse como homem e nunca lhe consentira que a olhasse como mulher, aparece de cântara na mão, ao vinho.
Em silêncio e sem se mexer, deixou-a passar para a adega, que era ao fundo, numa loja contígua Mas apenas sentiu-a desandar a torneira da pipa e a espuma do tinto a ferver dentro do barro lhe fez cócegas na garganta, pediu humildemente:
- Minha ama, dê-me uma pinga! - Dou. Anda cá bebê-la... Ergueu-se num pronto, saltou por cima do gado, entrou no armazém, recebeu a pichorra, levou-a à boca e começou a consolar a alma. De repente, sem mais nem para quê, a moça, calada, dá-lhe um empurrão à vasilha com a ponta do dedo. De respiração afogada e ainda engasgado, a tossir, relanceou-a toda. Ao machio, a senhora morgada!
E nada mais simples: pousou a caneca e dobrou a rapariga sobre uma facha de palha.

sábado, agosto 20, 2011

viagens (19/08/2011)







o cavalo sem patas - Arcos de Valdevez



jardim radiante (o meu preferido no festival de jardins 2011 - Ponte de Lima)

quinta-feira, agosto 04, 2011