segunda-feira, janeiro 31, 2011

posts em Janeiro.
mesmo sabendo que muito provavelmente não será mantido este ritmo, foi um bom trabalho!!!

domingo, janeiro 30, 2011

A bela Infanta


Estava a bela infanta
No seu jardim assentada,
Como o pente de oiro fino
Seus cabelos penteava.
Deitou os olhos ao mar
Viu vir uma nobre armada;
Capitão que nela vinha,
Muito bem que a governava.
– «Diz-me, ó capitão
Dessa tua nobre armada,
Se encontraste meu marido
Na terra que Deus pisava?»
– «Anda tanto cavaleiro
Naquela terra sagrada...
Diz-me tu, ó senhora,
As senhas que ele levava.»
– «Levava cavalo branco,
Selim de prata doirada;
Na ponta da sua lança
A cruz de Cristo levava.»
– «Pelos sinais que me deste
Lá o vi numa estacada
Morreu morte de valente:
Eu sua morte vingava.»
– «Ai triste de mim viúva,
Ai triste de mim coitada!
De três filhinhas que tenho,
Sem nenhuma ser casada!...»
– «Que dirias tu, senhora,
A quem no trouxera aqui?»
– «Dera-lhe oiro e prata fina,
Quanta riqueza há por i.»
– «Não quero oiro nem prata,
Não nos quero para mi:
Que darias mais, senhora,
A quem no trouxera aqui?»
– «De três moinhos que tenho,
Todos três tos dera a ti;
Um mói o cravo e a canela1 0
Outro mói do gerzeli:1 1
Rica farinha que fazem!
Tomara-os el-rei pra si»
– «Os teus moinhos não quero
Não nos quero para mi;
Que diria mais senhora,
A quem to trouxera aqui?»
– «As telhas do meu telhado
Que são oiro e marfim.»
– «As telhas do teu telhado
Não nas quero para mi:
Que darias mais, senhora,
A quem no trouxera aqui?»
– «De três filhas que eu tenho,
Todas três te daria a ti:
Uma para te calçar,
Outra para te vestir,
A mais formosa de todas
Para contigo dormir.»
– «As tuas filhas, infanta,
Não são damas para mi:
Dá-me outra coisa senhora,
Se queres que o traga aqui.
– «Não tenho mais que te dar,
Nem tu mais que me pedir.»
– «Tudo, não, senhora minha,
Que inda te não deste a ti.»
– «Cavaleiro que tal pede,
Que tão vilão é de si
Por meus vilões arrastado
O farei andar aí
Ao rabo do meu cavalo
À volta do meu jardim
Vassalos, os meus vassalos,
Acudi-me agora aqui!»
– «Este anel de sete pedras
Que eu contigo reparti...
Que é dela a outra metade?
Pois a minha, vê-la aí!»
– «Tantos anos que chorei,
Tantos sustos que tremi!...
Deus te perdoe, marido,
Que me ias matando aqui.
(Almeida Garret)



Estava a bela infanta

Na sua varanda alvoraçada,
Com o seu telemóvel de espessura fina,
Quando viu chegar
um carro topo de gama
Conduzido por um gentil cavalheiro.
Perguntou-lhe a bela infanta:
- « Ó cavalheiro dize-me:
Se nesses cafés por onde andas,
Viste um empregado de mesa
Com elegância extrema?»
- « Andava tanto empregado de mesa
por esses cafés e por aí,
dize-me o que usava?»
- « Usava calças pretas
e casaco castanho,
Uma mala ao xadrez,
cor de canela
E exclusivos sapatos de fivela.»
- « Não vi empregado de mesa
Com esses sinais, não vi.
- « Ai triste de mim, viúva
Com três televisões LG
E nenhuma foi estreada!»
- « Que davas tu, a quem to trouxera aqui?»
- « As três televisões que tenho
Os quatro computadores portáteis,
Os sete rádios,
Todo o meu dinheiro,
Tudo te dera a ti.»
- « Não quero nada disso!
Mas ainda não se ofereceu a si!»
- « Uma boa forma de roubar,
Mas que vilão é você
Que me está a importunar?»
- « Este anel em ouro,
de África do Sul
Está aqui!
Que é feito do outro
que a ti ofereci?»
- «Tantas saudades tive,
Tantos SMS te enviei
Que até o saldo gastei!
Mas perdoa-me aqui marido
Que tantos nomes te chamei…
Te juro que me ias matando aqui,
Ai que agora me desfaleci!»

(Versão do Agrupamento de Escola Afonso de Paiva)
Fonte: http://senhorasocrates.blogspot.com

sábado, janeiro 29, 2011

A Simba



A Simba está doente, um dente infeccionado e a idade, disse o veterinário.
São já 14 os anos que nos faz companhia.

Vadia, mal mandada, mas uma presença constante, e a campainha cá de casa.



quinta-feira, janeiro 27, 2011

Porque hoje voltou a chuva...

"Um banco é um estabelecimento que nos empresta um guarda-chuva num dia de sol e nos pede de volta quando começa a chover."

Robert Frost

terça-feira, janeiro 25, 2011

O Burro



Um dia, o burro de um aldeão caiu a um poço.

O animal zurrou fortemente durante algumas horas, enquanto o dono procurava ajuda para o retirar. Não a encontrando, acabou por decidir que, sendo o burro já velho e estando o poço já seco, o melhor era tapar o poço e não valia a pena tirar o burro.

Convidou então todos os vizinhos para o ajudarem. Cada um pegou numa pá e começaram a atirar terra para dentro do poço. O burro, ao ver o que se estava a passar, começou desesperadamente a zurrar.

Mas, pouco depois, para surpresa de todos, calou-se, e só se ouvia o som de pazadas a cair. O aldeão, olhando para o fundo do poço, ficou surpreendido com o que o burro estava a fazer. Sacudia a terra que ia caindo nas costas e dava mais um passo para cima da terra.

Rapidamente, todos viram com espanto como o burro chegou à boca do poço, saltou por cima dos bordos e partiu...

A vida vai-te atirar muita terra para cima, terra de todos os géneros. O segredo para saíres do teu poço é sacudi-la e usá-la para dares um passo para cima. Cada um dos nossos problemas é um degrau para subir.

Assim, podemos sair dos vazios mais profundos, se não nos dermos por vencidos...

Usa a terra que te atiram, para caminhares em frente.




segunda-feira, janeiro 24, 2011

Sublinhados - II

(… Depois levantou por sua vez fala, As minhas instruções são diferentes, as que recebi, também de quem mas podia dar, são simples, levar o elefante a valladolid e entregá-lo ao arquiduque de áustria pessoalmente, sem intermediários. A partir destas palavras, deliberadamente provocativas e que talvez venham a ter consequências sérias, serão eliminadas do relato as versões alternadas do intérprete a fim de não só agilizar a justa verbal, mas também para que fique habilmente insinuada a ideia precursora de que a esgrima de argumentos de um lado e de outro estará a ser percebida por ambas as partes em tempo real. Ouve-se agora o comandante austríaco, Receio que a sua pouco compreensiva atitude esteja a impedir uma solução pacífica do diferendo que nos opõe, é evidente que o ponto central está em que o elefante, seja quem for que o leve, terá de ir para valladolid, porém, há pormenores prioritários a tomar em consideração, o primeiro dos quais é o facto de o arquiduque maximiliano, ao declarar aceitar o presente, se tornou ipso facto proprietário do elefante, o que significa que as ideias de sua alteza o arquiduque sobre o assunto terão de prevalecer sobre quaisquer outras, por muito merecedoras de respeito que presumam ser, portanto, insisto, o elefante deve ser-me entregue agora mesmo, sem mais dilação, como única maneira de evitar que os meus soldados penetrem no castelo pela força e se apoderem do animal, Gostaria de ver como o lograriam, mas tenho trinta homens a cobrir a entrada do castelo e não estou a pensar em dizer-lhes que se retirem ou que abram alas para deixar passar os seus quarenta. Nesta altura a praça já estava quase deserta de paisanos, o ambiente começara a cheirar a esturro, em casos como este há sempre a possibilidade de uma bala perdida ou de uma pranchada cega pelas costas abaixo, enquanto a guerra não passa de um espectáculo, bem está, o mau é quando pretendem converter-nos em figurantes nela, ainda por cima sem preparação nem experiência. Foram, portanto, já poucos os que ainda ouviram a réplica do comandante austríaco à insolência do português, Os couraceiros sobre o meu comando poderão, a uma simples ordem, varrer do campo, em menos tempo do que levo a dizê-lo, a fraca força militar que se lhes opõe, mais simbólica que efectiva, e assim será feito se não for imediatamente deposta a insensata obstinação de que o seu comandante está dando mostras, o que me obriga a avisar de que as inevitáveis perdas humanas, que no lado português, dependendo do grau de resistência, poderão vir a ser totais, serão de sua inteira e única responsabilidade, depois não venham cá queixar-se, Uma vez que, se bem entendi, vossa senhoria se propõe matar-nos a todos, não vejo como poderemos depois queixar-nos…)

José Saramago ( A Viagem do elefante)