domingo, janeiro 30, 2011

A bela Infanta


Estava a bela infanta
No seu jardim assentada,
Como o pente de oiro fino
Seus cabelos penteava.
Deitou os olhos ao mar
Viu vir uma nobre armada;
Capitão que nela vinha,
Muito bem que a governava.
– «Diz-me, ó capitão
Dessa tua nobre armada,
Se encontraste meu marido
Na terra que Deus pisava?»
– «Anda tanto cavaleiro
Naquela terra sagrada...
Diz-me tu, ó senhora,
As senhas que ele levava.»
– «Levava cavalo branco,
Selim de prata doirada;
Na ponta da sua lança
A cruz de Cristo levava.»
– «Pelos sinais que me deste
Lá o vi numa estacada
Morreu morte de valente:
Eu sua morte vingava.»
– «Ai triste de mim viúva,
Ai triste de mim coitada!
De três filhinhas que tenho,
Sem nenhuma ser casada!...»
– «Que dirias tu, senhora,
A quem no trouxera aqui?»
– «Dera-lhe oiro e prata fina,
Quanta riqueza há por i.»
– «Não quero oiro nem prata,
Não nos quero para mi:
Que darias mais, senhora,
A quem no trouxera aqui?»
– «De três moinhos que tenho,
Todos três tos dera a ti;
Um mói o cravo e a canela1 0
Outro mói do gerzeli:1 1
Rica farinha que fazem!
Tomara-os el-rei pra si»
– «Os teus moinhos não quero
Não nos quero para mi;
Que diria mais senhora,
A quem to trouxera aqui?»
– «As telhas do meu telhado
Que são oiro e marfim.»
– «As telhas do teu telhado
Não nas quero para mi:
Que darias mais, senhora,
A quem no trouxera aqui?»
– «De três filhas que eu tenho,
Todas três te daria a ti:
Uma para te calçar,
Outra para te vestir,
A mais formosa de todas
Para contigo dormir.»
– «As tuas filhas, infanta,
Não são damas para mi:
Dá-me outra coisa senhora,
Se queres que o traga aqui.
– «Não tenho mais que te dar,
Nem tu mais que me pedir.»
– «Tudo, não, senhora minha,
Que inda te não deste a ti.»
– «Cavaleiro que tal pede,
Que tão vilão é de si
Por meus vilões arrastado
O farei andar aí
Ao rabo do meu cavalo
À volta do meu jardim
Vassalos, os meus vassalos,
Acudi-me agora aqui!»
– «Este anel de sete pedras
Que eu contigo reparti...
Que é dela a outra metade?
Pois a minha, vê-la aí!»
– «Tantos anos que chorei,
Tantos sustos que tremi!...
Deus te perdoe, marido,
Que me ias matando aqui.
(Almeida Garret)



Estava a bela infanta

Na sua varanda alvoraçada,
Com o seu telemóvel de espessura fina,
Quando viu chegar
um carro topo de gama
Conduzido por um gentil cavalheiro.
Perguntou-lhe a bela infanta:
- « Ó cavalheiro dize-me:
Se nesses cafés por onde andas,
Viste um empregado de mesa
Com elegância extrema?»
- « Andava tanto empregado de mesa
por esses cafés e por aí,
dize-me o que usava?»
- « Usava calças pretas
e casaco castanho,
Uma mala ao xadrez,
cor de canela
E exclusivos sapatos de fivela.»
- « Não vi empregado de mesa
Com esses sinais, não vi.
- « Ai triste de mim, viúva
Com três televisões LG
E nenhuma foi estreada!»
- « Que davas tu, a quem to trouxera aqui?»
- « As três televisões que tenho
Os quatro computadores portáteis,
Os sete rádios,
Todo o meu dinheiro,
Tudo te dera a ti.»
- « Não quero nada disso!
Mas ainda não se ofereceu a si!»
- « Uma boa forma de roubar,
Mas que vilão é você
Que me está a importunar?»
- « Este anel em ouro,
de África do Sul
Está aqui!
Que é feito do outro
que a ti ofereci?»
- «Tantas saudades tive,
Tantos SMS te enviei
Que até o saldo gastei!
Mas perdoa-me aqui marido
Que tantos nomes te chamei…
Te juro que me ias matando aqui,
Ai que agora me desfaleci!»

(Versão do Agrupamento de Escola Afonso de Paiva)
Fonte: http://senhorasocrates.blogspot.com

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