sexta-feira, abril 08, 2011

A Beatnicks

O ritual começava na estação da CP, sim, que na altura ter carro era privilégio para muito poucos. Eram quase sempre os mesmos a entrar no comboio das 3 e vinte, para uma curta viagem de não mais que 15 minutos.


Chegados à pequena aldeia era vê-los então em grupos, no trajecto até à pequena discoteca que os acolhia quase todos os domingos. Tinha a particularidade de não exigir pares na entrada sem que isso prejudicasse o equilíbrio necessário para não estragar o ambiente. Embora parecendo apenas um pequeno pormenor, isso acabou por fidelizar aqueles com pouco à vontade no momento do “não te importas que entre contigo?”, não contando com o risco de, não havendo a quem o fazer, passarem grande parte da tarde ali à porta ou merecerem a compaixão do porteiro, o Eusébio, rapaz sóbrio e de bigode sempre impecavelmente tosquiado.


Sentados em pufs ao redor da pista, e enquanto aguardavam que o DJ Chico abrisse as hostilidades trocavam-se olhares e observava-se quem ia chegando num jogo próprio, e que se repetia a cada domingo.


Mas o momento mais ansiado esse chegava a meio da matiné quando, subitamente, as luzes se reduziam e se ouviam as primeiras batidas das baladas. Era o momento dos slows, e aí começava a debandada da pista, regressando aos poucos, primeiro os pares já assumidos, depois os mais decididos no convite, e aos poucos, aqueles que por timidez ou por terem perdido as primeiras escolhas, ou que simplesmente tiveram maior dificuldade na “negociação do par”.


Mas aquele era também o momento em que outros carpiam em frente a um copo de cerveja ou uma cuba livre mais uma oportunidade perdida, com o olhar distraído nas sombras que se moviam na promiscuidade da bola de cristal, e onde de quando em vez o contraste do néon fazia brilhar o branco daqueles bustos.



(isto a propósito desta musica que passou à pouco na rádio)

1 comentário:

cristal disse...

Belo texto!
Gostei lool